Como Maduro conseguiu aniquilar o apoio popular ao chavismo

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A abstenção histórica foi o grande destaque das eleições regionais e legislativas da Venezuela, neste domingo (25), escancarando a crescente rejeição dos venezuelanos ao regime de Nicolás Maduro e ao próprio chavismo, no poder há 26 anos.

A oposição liderou um movimento de boicote à votação como um protesto à nova farsa eleitoral. Após as eleições, María Corina Machado sinalizou que mais de 85% dos venezuelanos não votaram neste domingo, descrevendo o ato como uma nova derrota para o “regime criminoso” de Nicolás Maduro.

Apesar da ampla abstenção dos venezuelanos, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão que fiscaliza as eleições no país e que é controlado pela ditadura, proclamou, assim como nas eleições presidenciais sem apresentar evidências, o chavismo como vencedor.

Segundo os dados oficiais – e questionáveis – o Grande Polo Patriótico, liderado pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), obteve 82,68% dos votos e conquistou 40 das 50 cadeiras nacionais na Assembleia Nacional. Além disso, a força governista “conquistou” 23 das 24 regiões, incluindo a ilegítima Guiana Esequiba, território em disputa com a Guiana que o chavismo agora incorporou de forma ilegal ao seu mapa eleitoral.

Quando Maduro herdou o poder na Venezuela, em 2013, ele apenas aprimorou os métodos de repressão do Estado inaugurados por seu mentor Hugo Chávez, o principal arquiteto do desmantelamento das instituições democráticas.

Foi nesse processo de transição política que os venezuelanos começaram a despertar para o autoritarismo chavista, que apenas se intensificou com o sucessor do ditador Chávez.

Durante os 12 anos de regime Maduro, após a morte do fundador do chavismo, a perseguição política se tornou cada vez mais evidente. Aos poucos e de formas cada vez mais violentas, os opositores tiveram suas vozes apagadas no país. Seja no Parlamento ou nas ruas, diversas organizações independentes denunciam diariamente violações de direitos políticos pela ditadura, incluindo prisões de críticos.

Em sua primeira eleição, antecipada devido à morte de Chávez durante o mandato, Maduro venceu o opositor Henrique Capriles por uma pequena margem de diferença, o que evidenciava a existência de uma polarização bem marcante no país. No entanto, com o passar dos anos, a corrupção institucionalizada e a criminalização da dissidência mudou fortemente o cenário, com cada vez menos chances de uma oposição ter chances reais de chegar ao topo.

Essas ações repressivas, ao longo dos anos, trouxeram resultados negativos para o chavismo, que perdeu fortemente o apoio popular na urnas. Em 2013, os dados oficiais apontaram que Maduro conquistou cerca de 7,5 milhões de votos, ficando um ponto acima do candidato da oposição Henrique Capriles.

No ano passado, durante as eleições presidenciais, nas quais o CNE foi acusado de fraudar o resultado mesmo com forte pressão internacional, Maduro recebeu cerca de cinco milhões de votos, o que já mostra uma perda significativa de apoio.

Os números divulgados na alegada vitória pelo órgão eleitoral podem ser ainda menores. No entanto, mais uma vez, a forte repressão antidemocrática do Estado venezuelano dificultou a contagem por órgãos independentes.

Parte da erosão do apoio popular pode ser explicada pela migração em massa justamente pela repressão política. Desde 2015, mais de oito milhões de venezuelanos deixaram o país, motivados pela crise generalizada.

Outra parte, que permaneceu na Venezuela, optou pela abstenção ou pelo silêncio, a fim de evitar represálias. Apesar do medo ou da indiferença à política, ainda há uma pequena força opositora que promove a esperança de tempos melhores para a população venezuelana.

Atualmente, o centro de poder do chavismo permanece em seu apoio militar, nas agências de inteligência e na proximidade com outras ditaduras, como a da Rússia e da China. Por outro lado, a população está desiludida com a narrativa de “revolução” num país que enfrenta uma crise cada vez mais profunda, atingindo diretamente a economia, a saúde, a educação e, de forma mais escancarada, a política.

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